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terça-feira, 14 de junho de 2016

ENTREVISTA EM VERSOS




ENTREVISTADA: DALINHA CATUNDA (DC)  
ENTREVISTADOR: Gilberto Cardoso dos Santos (GCS)
*
GC: Cara Dalinha Catunda,
Poetisa e cordelista,
Quero, em forma de cordel,
Fazer-lhe esta entrevista
Rainha dos menestréis,
Fale-nos de seus cordéis
Esboce uma mini lista.
 *
DC: Gilberto, caro poeta
Eu agradeço o convite
E fico lisonjeada
Com a proposta acredite
Vou puxar pela memória
E lhe contar minha história
Se a musa assim me permite.
 *
Dos cordéis que escrevi
Bem mais de cinquenta são
O mais ilustre de todos
É a Invasão do Alemão
Tem pelejas virtuais
Até sobre animais
E o cordel do Lampião.
 *
GCS: Como foi a sua infância?
Tem alguma formação?
Fale-nos de sua origem
Do que traz-lhe inspiração
A rimar, quando aprendeu?
Como se desenvolveu
Essa tão grande paixão?
 *

DC: Tive uma infância feliz
menina do interior
Tomando banhos de rio
Vendo seca ou mata em flor
Foi vendo o cio dos bichos
Que aprendi sobre amor
 *
Minha maior formação
Foi na escola da vida
Desde cedo eu já me achava
Menina muito sabida
Primário e ginasial
Eu fiz até o final
Pra depois pegar na lida
 *
Meu pai foi comerciante
Dono de terras também
Minha mãe foi professora
E faz versos muito bem
De tronco tradicional
Saí da terra natal
Pois queria ir além.
 *
Eu já nasci poetisa
E isso tenho certeza
Minha inspiração maior
Eu tiro da natureza
As regras eu aprendi
Com cada vate que li
Usando minha destreza.
 *
Foi lendo Gonçalves Dias,
E Catulo da Paixão
Também Juvenal Galeno
Naqueles tempos de então
Que fiquei apaixonada
E percorri a estrada
Onde abrolha a criação
 *
GCS: Qual é o lema de vida
Desta mulher inspirada?
O que espera alcançar
Em sua breve jornada?
Como se definiria?
E por que a poesia
A deixa tão animada? 
 *
DC: É ter o meu pé no chão
Cabeça na poesia
Temperar  realidade
Com sonhos de cada dia.
É viver nesse universo
Me alimentando de verso
Sem ter medo da porfia.
 *
Na arte de versejar
Eu sei que sou corajosa
Meu verso é apimentado
Sou vate de mote e glosa
Nunca corro da peleja
Meu sangue de sertaneja
É  que me faz orgulhosa.
 *
A poesia me permite
Viver muitos personagens
Viver mundos diferentes
Fazer mais de mil viagens
A ser muitas me ensina
Por isso ela me fascina
Essas são suas vantagens.
 *
GCS: Fale-nos sobre o cordel
E da tecnologia
Hoje há, na Internet,
Muito verso e cantoria
Há aspectos positivos
Também outros negativos?
O que você nos diria?
 *
DC:Hoje muita gente acha
Que sabe fazer cordel
Bota seus versos na rede
A rima não é fiel
Pois cordel tem sua norma
E aquele que revoga
Não faz bonito papel.
 *
É claro que a internet
Pro cordel facilitou
Hoje ele ganha mundo
E muito se alastrou
A peleja virtual
Tá na rede e é real
Muita gente aprovou.
 *
GCS: Você tem uma cadeira
Dentro da ABLC
Como se deu sua entrada?
Quem que convidou você?
Você pensou que algum dia
Tanto sucesso faria
Como o que hoje se vê?
 *
DC: Comecei a frequentar
A sede da Academia
E sempre nas plenárias
Declamava poesia
Doutor Willian então,
Ivamberto e Aragão
Deram-me a mordomia.
 *
Não sei se faço sucesso
Mas atirada eu sou
Para onde me convidam
Eu digo logo que vou
Na rede sempre escrevendo
Assim fui aparecendo
Meu nome se propagou.
 *
GCS: Dá pra viver de cordel
Neste chão continental
Onde o analfabetismo
Total ou funcional
Em todo lugar impera?
Acha que a mídia coopera
Para o bem ou para o mal?
DC: Criar cordel para mim
Na realidade é prazer
Mas com certeza lhe digo
Dele não dá pra viver.
Na rede e televisão
A mídia tem dado a mão
No hora de promover.
 *
GCS: Da tradição popular
Você é muito zelosa
Alguns cordéis atuais
Deixam você desgostosa
Têm sua reprovação.
“Rima, métrica e oração”
É uma coisa imperiosa?
 *
DC: A rima, oração e métrica
Temos que obedecer
Pra compor um bom cordel
O bardo tem que aprender
Mas em outra poesia
Sei que não precisaria
Poeta tem que saber.
 *
Os meus primeiros cordéis
Confesso que são malfeitos
De tanto receber críticas
Procurei fazer perfeitos
Não estou livre de errar
Mas procuro acertar
E fazê-los sem defeitos.
 *
GCS: Em todo e qualquer assunto
Há o sujeito linha-dura
Alguns pensam que o cordel
Tem que ter xilogravura
Você acha realmente,
Que uma capa diferente
Afeta a literatura?
 *
DC: Pra quem já estudou capa
Do cordel literatura
Sabe que só bem depois
Chegou a xilogravura
Por isso posso dizer
Doutros modos podem ser
Não desabona a cultura.
 *
GCS: Cite alguns dos grandes nomes
Da cultura nordestina
Do passado ou do presente
Alguém que muito a fascina
Fale das recordações
Dos cordéis e das canções
Do seu tempo de menina.
 *
DC: Leandro Gomes de Barros
Na arte se destacou
Além de escrever cordel
Ele também editou
Foi ele que no passado
Fez do cordel seu traçado
E nossa arte espalhou.
 *
Eu sou fã do Patativa
E também do Zé da Luz
A poesia matuta
é coisa que me seduz.
Cantador Pedro Bandeira
E é Gonçalo Ferreira
Que ao bom cordel faz jus.
 *
Quero homenagear
Um bardo do meu sertão
O seu nome é Gerardo
famoso Mello Mourão
Um poeta e escritor
E cantar em seu louvor
É preito de gratidão.
 *
Dos meus tempos de criança
Lembro contos de Trancoso.
O Cordel que não esqueço
É o Pavão Misterioso
Gostava de pular corda
Cantiga era a de roda
Vivi um tempo gostoso.
 *
GCS: Informe-nos finalmente
qual o seu nome real
o lugar em que nasceu,
se em zona urbana ou rural
se é solteira, casada,
viúva, mãe, namorada...
campo profissional.
 *
DC: Eu sou Maria de Lourdes
Sou Catunda e Aragão
Nasci no meu Ceará
Ipueiras é meu chão
Uma pequena cidade
Onde vivi de verdade
E fica lá no sertão.
 *
Eu tenho meu companheiro
Tenho dois filhos também
Eu sou só dona de casa
Não trabalho pra ninguém
Hoje só faço cordel
E vivo de aluguel
Acho eu que vivo bem.
 *
Gilberto muito obrigada
Pelo sua entrevista
Sei que demorei um pouco
Mas era coisa prevista.
Metrificar e rimar
Responder e versejar
Se descuidar erra a pista.
 *
GCS: Eu que agradeço, Dalinha,
pelas respostas que deu
tudo que nós perguntamos
com destreza respondeu
Que continue a brilhar
Na cultura popular
Com os dons que recebeu.

http://apoesc.blogspot.com.br/2016/04/entrevista-em-versos-com-dalinha.html

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