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terça-feira, 1 de março de 2016

A Peleja de Dalinha Catunda e José Walter

A MULHER E SUAS PREGAS
.
A mulher de hoje em dia
Parece uma assombração. 
Nos peitos põe silicone
Para ficar de peitão,
Com duas bolas bem duras
Faz a sua exibição.
*
A bunda já não balança
Quando ela vai caminhar,
Prótese de silicone
Nos quartos mandou botar,
Se sentar num alfinete
A bunda vai detonar.
*
A boca fica bicuda,
Careta faz ao sorrir.
Livre das velhas pregas
Não sente a testa franzir,
Agradece ao botox
Pelas pregas destruir.
*
Respeito as minhas pregas,
Respeite as suas também.
Não tem jeito que dê jeito,
Quando dona idade vem.
Mostram nas mãos e pescoço
A idade que a gente tem.
*
A prega é como cacimba, 
Cavada num bom lugar
Quanto mais água se tira,
Mais nasce pra se tirar.
Assim é a trajetória
Da mulher se preguear. “

Dalinha Catunda
.
ZEWALTER
Pra lhe dizer a verdade,
Vejo rugas só num canto
Dos olhos amendoados.
Porém, não são assim tanto,
Só se for mais para baixo,
Como de repente eu acho
Para causarem espanto.
.
DALINHA CATUNDA
As pregas que tenho embaixo
Não posso mostrar pra tu,
Se eu mostrasse, com certeza,
Acabava em sururu;
Meu escracho não é tanto,
Se contente com as do canto,
Vou lhe poupar o rebu.
.
ZEWALTER
Ufa! Fiquei assustado
Com seu jeito de rimar.
Vem aí chumbo do grosso
Comecei a imaginar:
Se bem conheço a poeta,
Vai botar o meu na reta
Sem sequer aliviar.
.
DALiNHA CATUNDA
Eu não me espanto com pouco
Nem venha me cutucar.
Você chegou provocando,
Eu quieta em meu lugar.
Se eu franzir a minha testa,
A brincadeira não presta
E você vai me aturar.
.
ZEWALTER
Quem sou eu pra cutucar
Satanás com a vara curta;
Com qualquer provocação
De uma glosa não se furta.
Com sua língua ferina,
Não se faz de vaselina
Nem se avexa da conduta.
.
DALINHA CATUNDA
Quem não confia em seu taco
Jamais se mete a batuta,
Não provoca uma mulher,
Com ela não faz disputa,
Pois quando o cabra é fraco,
Só leva chute no saco
E logo foge da luta.
. .
ZEWALTER
Sendo assim que você quer,
Vai daqui tijolo quente;
Não vou fugir desse embate,
Porque quem cala consente.
E se pra você sou fraco,
Você não passa de um caco
Que polui o ambiente. 
.
DALINHA CATUNDA
Você diz que sou um caco,
Não passa dum cacareco,
Um professor desastrado,
Que não respeita o jaleco.
Quando alguém o desafia,
De cara vai pra porfia,
Dá uma de fulustreco. 
.
ZEWALTER
Segure o tom do seu verso
Pra não turvar o debate;
Sou professor com orgulho
E não cachorro que late,
Que nunca morde ninguém,
Porque cacife não tem 
Pra ser chamado de vate
.
DALINHA CATUNDA
Não sou poeta, nem vate,
Nem bardo, se quer saber.
Não nasci para latir,
Mas aprendi a morder.
Eu sou mesmo é poetisa,
Que pelos versos desliza,
Fazendo vate sofrer.
.
ZEWALTER
Agora ficou bonito 
E bem do jeito que gosto.
Os seus versos são bem feitos
E faz melhores, aposto,
Porque sendo poetisa,
Sabe o terreno que pisa,
Pois diferentes não posto.
.
DALINHA CATUNDA 
Pensei bem e resolvi
O professor respeitar;
Afrouxei o nó da corda
Para o mestre respirar,
Brequei um pouco meu trote,
Guardei também o chicote,
Resolvi me comportar.
.
ZEWALTER 
Sei do seu temperamento
De não ficar se roendo.
Bote quente nos seus versos, 
Que nos meus boto fervendo,
Pois sendo mútuo o respeito,
Faremos tudo direito,
Sem nada ficar temendo.
. 
DALINHA CATUNDA
Amigo se eu botar quente
Boto você pra correr,
Nunca vi numa contenda
Um cantador se conter.
O seu português correto
Não tolhe meu dialeto
Nem vai nos favorecer.
.
ZEWALTER
Boa comunicação
Só se faz sem camuflagem,
Pra ficar bem entendida
Independe da linguagem.
Não é erro um dialeto
Nem bom português o certo,
O importante é a mensagem.
.
DALINHA CATUNDA
O meu jogo é aberto,
Respeitável cidadão.
E por debaixo do pano
Não entro em competição.
Meu jogo é escancarado,
Se o cara for descarado
Eu mando lamber sabão.
.
ZEWALTER
Passarim que canta muito
Deixa seu ninho cagado
Isso é saber popular
Conforme diz o ditado,
Como mulher fanfarrona,
Que de tudo quer ser dona,
Sem dar conta do recado.
.
DALINHA CATUNDA 
Por isso não faço esforço
Para com rola cantar.
Vive cagando o poleiro
E gosta de se afobar,
Feito homem que abre o bico
E depois pede o penico
Na hora de pelejar. 
.
ZEWALTER
Vejo que você me trata
De maneira comedida.
Não sei se existe receio 
Ou se faz desentendida.
Eu não tenho rabo preso
Para merecer desprezo
E manchar a minha vida.
.
DALINHA CATUNDA
Pois pode soltar a franga,
Belo exemplar de Brumado
E mostre a sua riqueza,
Não este palavreado.
Eu sou rica de alegria,
Demonstro na poesia
Meu lado bem humorado.
.
ZEWALTER
Estamos nessa peleja
Do jeito da onça e o bode, 
Conforme conta a história, 
Nesse pode mais não pode,
Com o motivo das pregas
Sem compormos versos bregas,
Só pra ficar no pagode. 
.
DALINHA CATUNDA
Ficaram pra trás as pregas,
Mas continua o babado,
Alinhavando meus versos
Eu sigo o mesmo traçado.
Sou onça que sabe e pode,
Dando corda enrola um bode,
Deixando ele amedrontado.
.
ZEWALTER
Assim você não decide,
Dizendo que você quer,
Saltitando feito cabra,
Travestida de mulher.
Bote lenha na fogueira,
Como faz a fofoqueira
Sem se importar no que der.
.
DALINHA CATUNDA
Com esse seu bodejado,
Já tá dando é agonia,
Nunca canta, só gagueja,
Estragando a cantoria.
Tire a faca da bainha
Pra pelejar com Dalinha,
Cabra frouxo da Bahia. 
.
ZEWALTER
Amiga sou cabra macho
E não corro de arrelia;
A minha arma é a palavra
Não temo qualquer Maria.
A faca da cangaceira, 
Jamais corta uma aroeira,
Mesmo sendo em cantoria.
.
DALINNHA CATUNDA
Eu aqui corto aroeira,
Corto angico e jurema,
E língua de falador
Que só faz criar problema
Sou de fato cangaceira,
É na ponta da peixeira
Que desembucho meu lema.
.
ZEWALTER
Você é mandacaru
Mas eu sou um juazeiro
Que palmilha na catinga
Verdejante o ano inteiro
Você é erva daninha
E me desculpe, Dalinha
Não cresça no meu terreiro
.
DALINHA CATUNDA
Eu sou, sim, mandacaru,
Sou o luar do sertão,
Sou o sol quente do agreste,
Sou chuva que cai no chão,
Sou cabocla sertaneja
Que com os versos graceja
E salva a competição.
.
ZEWALTER
Quando um não quer dois não brigam
Dois bicudos não se beijam
Dois poetas de verdade
Com elegância versejam
Sem vulgarizar o encontro
Encerrando esse confronto
Como felizes desejam!
.
DALINHA CATUNDA
Isso aqui não foi combate
Foi apenas treinamento
Mas garanto caro vate
E assevero o juramento
Quando você desasnar
Nós iremos pelejar
Quero assistir seu tormento.
*
Fim

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