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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O cordel em cordel de Medeiros Braga

O CORDEL EM CORDEL

Perguntaram certa vez
Ao mestre Raymond Cantel,
Um francês estudioso
Que saber tem a granel
O que vinha a ser, de fato,
Ao pé da letra, o cordel.

Já podia bem de antes
Por certo conceituar
De “narrativa e impressa”,
Vindo ele a acrescentar,
Com maior convencimento,
A palavra “popular”.

O cordel, definitivo,
Pôde um conceito ganhar:
“É POESIA NARRATIVA,
IMPRESSA E POPULAR”,
Por essa forma, podendo
O que se pensa, narrar.

Cordel são esses folhetos
Com estrofes uniformes
De seis, sete, ou dez versos
Com os temas mais disformes
Que podem ser muito curtos,
Médios, maiores, enormes.

Só depende da temática
Que se pretende narrar,
Geralmente, se romance
Não se pode condensar,
Se obriga o cordelista
As emoções detalhar.

Pode ser de oito páginas
Ou mesmo de dezesseis,
Mas, se vê de vinte e quatro,
Trinta e dois, quarenta e seis,
Variam pela importância
Dos eventos e das greis.

Quando o tema é de humor,
De chacota, brincadeira,
Vão até dezesseis páginas
Fazer maior é besteira,
Pra contar dá o espaço
Ignorância ou leseira.

Mas, qual o significado
Do termo, com precisão?...
É porque eram vendidos
Nas feiras ou barracão
Quase sempre pendurados
Em barbante ou em cordão.

De início eram vendidos
Nas feiras das redondezas
Sobre lonas pelo chão,
Então em cima das mesas
Lá cantavam os poetas
Suas estrofes belezas.

De cordão veio o cordel
Esse nome consagrado,
Esse folheto de feira
De bom serviço prestado
Na formação, no informe,
Em tudo que é contado.

Outras interpretações
Aparece quem as faça,
Já ouvi de “sabichões”
Talvez até por chalaça
Que não passa tudo isso
De uma estória sem graça.

Também nos dizem que ele
Não nasceu cá no Brasil,
Que veio de longas plagas
Já trazendo esse perfil,
Que aqui se encravou
Como um tiro de fuzil.

Mas, o cordel que nós temos
Com o poder de encantar,
Tão perfeito que o leitor
Pode os seus versos cantar,
Esse não veio de fora
Isso eu posso assegurar.

O que veio lá de fora
Foi folheto sem tal forma
Com versos desfigurados
Tendo até prosa por norma,
Artigos, pequenos contos,
Que ao cordel só deforma.

Esses folhetos de feira
Que chamamos de cordel
Com as regras definidas,
Com seu formato fiel
Esse é todo brasileiro
E nós temos a granel.

Ele está na escola e rua,
No reisado e na ciranda,
Há muita gente escrevendo
E lendo pra toda banda,
Fato é que a produção
Vai criando uma demanda.

Já não é só no Nordeste
Que o cordel se vê mais,
Também é composto e lido
Lá pelas Minas Gerais,
São Paulo, lá pelos pampas,
Acre, Rodônia, Goiás.

Pelo Rio de Janeiro
Já tem muito menestrel,
E essa literatura
Fazendo um belo papel
Tem a sua Academia
Brasileira de Cordel.
............

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

CONVITE - Posse de Pedro Bandeira


CONVITE
Excelentíssimo (a) Sr (a)
O Presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira da Silva,
Convida para solenidade de posse de Pedro Bandeira Caldas
Como titular da cadeira nº 35, que tem como patrono,
Expedito Sebastião da Silva.
A saudação será feita pela acadêmica
Maria de Lourdes Aragão Catunda
(Dalinha Catunda), representante da ABLC.
Data: 11-03- 2014, terça-feira
Horário: 16:00
Local: Confederação das Academias
Rua: Teixeira de Freitas nº 5 – 3º andar
Bairro: Lapa – Rio de Janeiro - RJ

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

As viúvas da seca, de José Walter Pires


CORDEL DE SAIA publica o poema do confrade José Walter Pires. Narra os muitos sofrimentos da seca.

“AS VIÚVAS DA SECA”


São chamadas dessa forma
Mulheres abandonadas
No Nordeste brasileiro
Embora sendo casadas
Mas vivendo sem maridos
E de filhos, carregadas.

Isso ocorre quando a seca
Se alastra pelo sertão
E o Sol queimando tudo
Deixa a terra em exaustão
Com a fome campeando
Matando sem compaixão

Na miséria dos casebres
Padecendo o sofrimento
Sem água para beber
Sem qualquer um alimento
Crianças morrendo à míngua
Em completo desalento

A mãe, coitada, sofrida,
Acomoda as suas crias
Junto ao corpo emagrecido
Com as barrigas vazias
Esperando o Deus dará
Na constância dos seus dias

O pai, sertanejo forte
Inteiramente abatido
Vagueando a imensidão
Com o seu olhar perdido
Preso a um fio de esperança
Dentro do peito escondido

Lembra-se, então, do compadre
Como a sua salvação
Ir embora pra São Paulo
A terra da promissão
Deixando a mulher e filhos
Sob a sua proteção

Dessa forma, decidido,
E o coração palpitante
Chamou a mulher e disse:
— Serei mais um retirante
Vou em busca de outra vida
Numa terra mais distante.

— Não dá mais para ficar
Padecendo nesse amém
Vou, mas voltarei depois
Pra levar vocês também
Se ficar só resta a morte
Nessa terra de ninguém.

Ouvindo aquela notícia
A mulher entristeceu
Com os olhos marejando
Soluçante, respondeu:
— Não há mesmo o que fazer
Do destino que Deus deu!

A procura do Compadre
Dali saiu o marido
Entre todos do lugar
Era o mais bem sucedido
Sempre tirando proveito
De quem fizesse um pedido

— Compadre, venho pedir
Uma ajuda do Senhor
Não tenho do que viver
Só restando a minha dor
Como padrinho do menino
Não me negue esse favor

O compadre ouvindo aquilo
Com seus botões matutou:
— Vem mais uma pra meu prato
Dissimulado, indagou:
— Então diga o que deseja
Porque negar nunca vou!

— Vou embora pra São Paulo
Para poder trabalhar
Vou deixar mulher e filhos
Para o Senhor ajudar
Assim que chover eu volto
Para poder lhe pagar.

— Compadre não se avexe
Pode tratar da partida
Deixe a Cmadre e os meninos
Que darei toda guarida
Lá irei pra consolar
Na hora da despedida

Assim foi o retirante
No primeiro  caminhão
Levando além de esperança
Saudade no coração
Agradecido ao Compadre
Por toda a sua atenção.

No outro dia, de manhã,
O Compadre já estava
Lá na casa da Comadre
Que saudosa se encontrava
Porém, muito confiante,
Pra entrar o convidava

Os dias foram passando
E as visitas mais frequentes
Conversa mais animada
Pra os meninos, presentes
Um cafezinho cheiroso
Os dois tomavam contentes

A bem dizer a Comadre
Não era de jogar fora
Com um pouco mais cuidada
Mudaria sem demora
O Compadre pressentia
Estava chegando a hora

Numa tarde decidido,
Estando com ela só
Ele, então, lhe perguntou
Sem piedade e sem dó:
— “Nóis transa ou bebe café?”
—  “Cumpade,  acabou o pó!

Desse dia para frente
A coisa degringolou
A Comadre mais catita
No sertão desabrochou
O Compadre ali transando,
Até quando ele brochou!

José Walter Pìres
Fevereiro 2010



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

EMBALANDO A SAUDADE


EMBALANDO A SAUDADE
*
DALINHA CATUNDA
Apagou o lampião
Faltou gás no candeeiro
E neste Brasil inteiro
Abrolha o breu do apagão
Vou voltar pro meu sertão
Pra vidinha nordestina
Acender a lamparina
E me encantar com luar
Esquecer pra não chorar
Hidrelétricas e usina.
*
FRED MONTEIRO
Nessa vida modernosa
que levamos na cidade
cadê a simplicidade
de uma tarde chuvosa ?
numa preguiça gostosa
esperando pela lua
que a noite já insinua
na luz do “alcoviteiro”
esse velho candeeiro
que une minha vida à tua
*
DALINHA CATUNDA
Nessa vida da cidade
Só tenho aborrecimento,
Calor, engarrafamento,
Falta-me tranquilidade.
Hoje morro de saudade
Da vida lá do sertão,
Da lua com seu clarão,
Da rede no armador,
De nós dois só o rumor...
No balanço da paixão!
*
Foto Dalinha Catunda