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quinta-feira, 30 de maio de 2013

MENOR ABANDONADO

MENOR ABANDONADO
Mote de Hélio Crisanto
*
Hélio Crisanto
Sem pensão alimentícia
Sentindo a falta dos pais,
Vira caso de polícia
Nas manchetes dos jornais.
Os companheiros da tarde
Fizeram dele um covarde
Com a sua mente mortiça
Sem pai e sem sobrenome
BEBENDO O CALDO DA FOME
NO PRATO DA INJUSTIÇA
*
Aristeu Bezerra
Um menor abandonado
constitui escravidão
de quem não tem coração
ele vai ser explorado
vivendo sem ser amado
e vai servir de cobiça
se viciar na preguiça
a esperança se some
BEBENDO O CALDO DA FOME
NO PRATO DA INJUSTIÇA.
*
Dalinha Catunda
Merece pena de morte
Um pai que deixa seu filho
Seguir sozinho seu trilho,
Pois entregue a própria sorte
Ele perderá seu norte
E na caminhada enguiça
O livre-arbítrio lhe atiça
A miséria lhe consome
BEBENDO O CALDO DA FOME
NO PRATO DA INJUSTIÇA.
*
Edimar Monteiro
Isto ocorre todo dia
Ver um filho abandonado
Sem a família a seu lado
Distante da alegria
Vivendo de nostalgia
Num bairro de grande porte
Não trabalha por preguiça
A cultura desperdiça
E a droga o consome
Bebendo o caldo da fome
No prato da injustiça.
Estrofes e fotos postados originalmente no blog Besta Fubana - http://www.luizberto.com/

terça-feira, 28 de maio de 2013

CERVANTES EM CORDEL

A LITERATURA DE CORDEL NO BRASIL
VAI MUITO BEM, OBRIGADO!

 
Célia Navarro Flores
Universidade Federal de Sergipe


O crítico literário Díaz-Maroto, em seu livro Panorama de la Literatura de Cordel española, de 2000, diz que a literatura de cordel desapareceu na Espanha por volta dos anos 70 e, em Portugal, por volta dos anos 80, e que, "no Brasil continua relativamente viva nos noventa; assim é possível que conheça o século XXI". Felizmente, nosso cordel chegou ao século XXI e com muita vitalidade, graças à iniciativa de cordelistas que não apenas produzem cordel, mas que lutam por sua sobrevivência.
Nesse sentido, devemos parabenizar a iniciativa da criação da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), a qual congrega cordelistas de todas as partes do Brasil. Dirigida pelo simpaticíssimo mestre Gonçalo Ferreira, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, a academia comercializa cordéis e mantém um vasto acervo, parte do qual já está catalogado.
Outro fator que contribui para a divulgação e sobrevivência de nosso cordel é a mudança na perspectiva da produção cordelística no Brasil, que se observa atualmente. Embora ainda existam os poetas de corte tradicional, ou seja, aqueles oriundos do campo, que produzem um cordel bastante popular, hoje há uma nova geração de cordelistas: homens letrados, que além do cordel, exercem outras atividades como o jornalismo, a propaganda etc. Os pontos de vendas dessas obras também se diversificaram. No nordeste, ainda são encontrados os folhetos pendurados em barbantes, vendidos em praças e feiras populares. Entretanto, hoje, eles podem ser adquiridos também nas livrarias locais ou nas virtuais. Com essa nova geração de cordelistas, o formato dos folhetos também mudou. Hoje, ao lado dos folhetos tradicionais, encontram-se cordéis em edições de luxo, profusamente ilustrados, em formatos maiores. Outra mudança interessante foi com relação à função dos cordéis e seu público alvo. Se antes os cordéis tinham apenas a função de entretenimento e eram destinados ao público em geral ‑ muitas vezes, pouco letrado ‑, hoje, além dessas atribuições, ele passou a ser pensado e utilizado como recurso didático nas escolas brasileiras, destinado a um público infanto-juvenil, o que levou os cordelistas a adaptar grande quantidade de obras literárias brasileiras e estrangeiras para a literatura de cordel, como, por exemplo: Memórias póstumas de Brás Cubas e O alienista, do escritor brasileiro Machado de Assis, A dama das camélias, de Alexandre Dumas Filho, As aventuras de Robson Crusoé, de Defoe, Os miseráveis, de Vitor Hugo, Dom Quixote, de Cervantes, entre muitos outros.
Ao lado da criação da ABLC e da mudança na perspectiva de produção do cordel, há um terceiro elemento que pode ser considerado um propagador da literatura cordelística: o pesquisador; a publicação de artigos e a apresentação de comunicações em congressos sobre tema relacionado ao cordel colaboram para sua valorização. Em algumas universidades brasileiras já podemos encontrar estudiosos do tema.
A Península Ibérica pode até não produzir mais literatura de cordel, mas deve-se reconhecer que há um esforço para preservação dos folhetos existentes e para colocar esse acervo à disposição de pesquisadores, principalmente na Espanha. No Brasil, ainda há grande dificuldade em conseguir os cordéis. A ABLC, por exemplo, não disponibiliza ainda o catálogo de seu acervo, tampouco as bibliotecas públicas das cidades nordestinas, nas quais, geralmente, há uma seção de cordéis. Um acervo digitalizado, entretanto, pode ser encontrado no site do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

É LIVRE MEU PENSAMENTO

Grafite de Derlon Almeida, foto de Fred Monteiro

É LIVRE MEU PENSAMENTO
E O CORPO NÃO QUER PRISÃO.
Mote de Dalinha Catunda

Dalinha Catunda desafia:

Quando galo criar dente
Quando pato cagar grosso,
E minhoca tiver osso
Eu vou ser obediente.
Não sou de arrastar corrente
Nem sou de escutar sermão
Detesto submissão,
E fujo de juramento
É LIVRE MEU PENSAMENTO
E O CORPO NÃO QUER PRISÃO.

Fred Monteiro responde:

Eu nasci pelado e pobre
sem bolso pra guardar nada
assim foi minha chegada
neste mundo sem um cobre
mas no trabalho que é nobre
fui juntando meu quinhão
se não cheguei ao milhão
Deus me deu o sentimento
É LIVRE MEU PENSAMENTO
E O CORPO NÃO QUER PRISÃO
DC
Em Ipueiras nasci,
Pras bandas do Ceará
Até quis ficar por lá
Depois no mundo sumi
Pois liberdade não vi,
Era pisa, era carão,
E eu mulher de opinião
Pensei naquele momento:
É LIVRE MEU PENSAMENTO
E O CORPO NÃO QUER PRISÃO.
FM
Sou um passo avuadô
avuando pulo céu
eu vivo de déu em déu
e num sei o que é temô
Im riba dum pé de flô
num canto meu canto im vão
tá pra nascê o cristão
qui pare meu movimento
É LIVRE MEU PENSAMENTO
E O CORPO NÃO QUER PRISÃO
DC
Já eu sou pipa avoada
Voando no céu azul
Fazendo o maior Rebu
No infinito empinada,
E não fico embaraçada
Me solto na imensidão
O vento traz sensação
Que me invade e não invento,
É LIVRE MEU PENSAMENTO
E O CORPO NÃO QUER PRISÃO.
FM
Dalinha tu és poeta
Daquela que é criada
no sertão, lá na quebrada
onde viver é a meta
onde a noite se aquieta
no silêncio do grotão
onde a lua é o lampião
no dossel do firmamento
É LIVRE TEU PENSAMENTO
TEU CORPO NÃO QUER PRISÃO.

quarta-feira, 22 de maio de 2013



CORDEL DE SAIA é um espaço de gestão entre Dalinha Catunda e Rosário Pinto. Aqui pretendemos publicar as produções de mulheres cordelistas, noticiar eventos e informar as novidades poéticas vindas de todos os poetas em seus estados de origem. Entretanto, hoje sou impelida a publicar um poema de cunho pessoal, feito em 2011, mas que reflete meu momento presente.

Fio da navalha
1
O fio da navalha é
Muitas vezes perigoso
Manejá-lo é ofício
De barbeiro habilidoso
Na vida se deve sempre
Ser bastante cuidadoso
2
Pois vivemos situações
Que nos deixam à deriva
Sempre buscando equilíbrio
Nos frágeis fios da vida
Num andar desajeitado
Buscando alguma acolhida
3
Ficamos de mãos atadas
Buscando forma de escape
Das teias que aparecem
Lutar sem arma ou tacape
Com olhos aparvalhados
Medo que a vida desate
4
A visão da consciência,
Às vezes, fica confusa
Pensamento embaralhado
Pensar é coisa difusa
O raciocínio nos foge
Nossa mente nos acusa
5
Vivemos situações
Que nos deixam à deriva
Sempre buscando equilíbrio
Nos fios de nossa lida
Os da navalha nos cortam
Os frágeis fios da vida
6
Há dias que relutamos
A nos levantar da cama
O corpo cansado grita:
-Quero ficar de pijama!
Mas o dever solicita
Não vale psicodrama
7
Saímos para o trabalho
Naquela lida infinita
Conduções sempre lotadas
Todo mundo se agita
E naquele empurra-empurra
Do mundo cosmopolita
8
Chegando ao nosso trabalho,
Há sempre muito a fazer
São milhares de papéis
E tudo pra resolver
São oito horas diárias
Sem poder nos abster
9
Na hora da Ave-Maria
Nosso dia chega ao fim
Com problemas resolvidos,
Saímos pro botequim
E tomar uma cerveja
Requeijão com aipim
10
Não é sempre que podemos
Falar de alma lavada
As emoções conturbadas
Ficam de forma engessada
E é por isto que vivo
De forma desatinada
11
Andamos na corda bamba
Com a vida por um fio
Todo dia, sempre igual:
Viver sob calafrio,
Dia e noite, noite e dia
A vida é um desafio
(Rosário Pinto)
abril, 2011
Imagem colhida da internet

EU, poema de Florbela Espanca


Caros amigos poetas,
Hoje fujo aos cânones das poetagens de poesia de cordel para deixar aqui um  soneto da bela Florbela Espapa. Vai mais com o meu atual estado d'alma. Espero que possam apreciar. Afinal foi uma das mais batalhadoras pelos direitos da mulher publicar suas poesias, numa época em que a poesia feminina ainda era marginalizada.
Deixo aqui um comentário extraído de estudo crítico de João Régio para a  edição Sonetos, de Florbela Espanca: 
"Fantasia (ou não sei se fantasia) um de seus biógrafos (Carlos Sombrio), que tendo acabado de dar à luz, a mãe de Florbela pergunta:
- menino?
- Não, menina! É uma flor!""
Sim, antes de mais, Florbela nasceu mulher. Também alguma coisa se irá dizendo a tal respeito. Não é impunemente que um ser especial nasce mulher"

EU

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chama triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Se desejar, pode fazer seus comentários.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Cordelistas na homenagem a Augusto dos Anjos

Homenagem a Augusto dos anjos
O pé de tamarindo é um personagem constante dos poemas de Augusto dos anjos. E ainda hoje existe no Engenho do Pau d’Arco (hoje memorial Augusto dos Anjos), onde nasceu o grande poeta. Infelizmente o outro exemplar que o acompanhou junto ao túmulo, em Leopoldina (MG), foi há pouco derrubado.
Para preservar a memória do autor de poemas já clássicos de nossa literatura, como “Eu”, o artista plástico Zé Andrade, ao lado de vários cordelistas, esta promovendo um projeto de estímulo à plantação de tamarindo em espaços públicos, particulares, escolas, universidades e bibliotecas.
Juntemos nossas forças para manter viva a memória de Augusto dos Anjos, que foi também um grande defensor da natureza.
Texto do professor Moacyr Bastos

Poetas Convidados
Gonçalo Ferreira da Silva
Sepalo Campelo
Maria de Lourdes Aragão Catunda (Dalinha Catunda)
Manoel Santamaria
Miguel Bezerra
João Batista Melo
Sá de João Pessoa
José João dos Santos (Mestre Azulão)

Estrofes com as quais eu participei:
AUGUSTA PLANTAÇÃO

Foi do tronco d’um Carvalho,
Que o poeta do “EU” brotou
No Engenho do Pau d’Arco,
A sua vida abrolhou
E o velho tamarindeiro
Esta história registrou.
*
Naquele tamarindeiro,
Estudava sua lição,
Suas tarefas escolares,
Chegando a exaustão,
E ali também chorava
A dor da desilusão.
*
Distante da sua terra
Longe do tamarindeiro,
Foi para outra dimensão
Deixando seu companheiro
Que nem chegou a ouvir
O seu canto derradeiro.
*
No pé de minhas estrofes
Plantei admiração.
“Debaixo do Tamarindo”
Colhi minha produção.
Na voz de cada poeta
Verei multiplicação.
*
Versos de Dalinha Catunda

domingo, 5 de maio de 2013

Comentário Escolhido

O poeta Severino Honorato em Comentário Escolhido
*
Que bela iniciativa
A PUC toma partido
Numa ação conclusiva
Em ato estabelecido
Opção reflexiva
Ao Cordel, novo sentido!

Para completar a trama
Bambas se fazem presentes
Poeta Gonçalo chama
Num improviso somente
Dalinha se apresenta
Ao Zé Maria da gente!

Ressalve-se as proporções
Neste ato de partida
Cada vez mais o Cordel
Tá longe da despedida
São bambas os menestreis
E não há ação combalida!

Severino Honorato - Rio de Janeiro.
Versos de Severino Honorato
Foto do acervo de Dalinha Catunda

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Campanha da PUC - Rio inspirada no cordel

Dalinha Catunda e Gonçalo Ferreira
Tião Simpatia e Dalinha Catuunda

Zé Maria de Fortaleza e Dalinha Catunda
Campanha da PUC-Rio inspirada no cordel

No dia 16 de abril, a DBD – Divisão de Bibliotecas e Documentação da PUC-Rio, iniciou uma campanha de preservação do seu acervo.

A campanha foi inspirada na Literatura de Cordel e foi chamada “Cordel da Preservação nas Bibliotecas da PUC-Rio”.

O Lançamento da campanha contou com a presença do presidente da ABLC, Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira da Silva que discorreu sobre a preservação do livro e sobre a história do cordel. Contou também com os cordelistas e repentistas, Zé Maria de Fortaleza e Tião Simpatia que fizeram ótima apresentação fazendo repente sobre o mesmo tema.

A palestra foi rica em informações, saí de lá bem mais informada sobre como manusear corretamente um livro para que este não chegue à degradação.

Texto de Dalinha Catunda fotos de Erinalda Villenave.